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EM SÃO PAULO

Vendido por este ou aquele motivo, já hoje impossivel de apurar ao certo, á distancia de quasi um século, veiu Gama para o sul, inaugurando a via-crucis que ele narra mais espaçadamente na Carta: curta demora no Rio de Janeiro, enquanto trocava de senhor, embarque para Santos, subida, a pé, da Serra do Cubatão, peregrinação pelo interior da provincia, na oferta continua de seu corpo para pagem de filhos dos ricaços do tempo, recusa ostensiva dos fazendeiros em o aceitarem pelo fato de ser baiano.

Os escravos dessa naturalidade amedrontavam, na época, o Brasil inteiro. Notabilizara-os, no Império e na Colonia, uma serie ininterrupta de insurreições negras, na Baía, que vão de 1807 a 1835,[1] e nas quais a ameaça suprema pesava sobre a cabeça dos brancos possuidores de escravos. As primeiras haviam sido sedições de negros “haussás”, isto é, as de 1807, 1809 e a grande, de 1813, já ao tempo do Conde dos Arcos.

  1. Veja, para o estudo dessas insurreições, Nina Rodrigues — Os Africanos no Brasil, nesta coleção.