senvolvida. E Gama, “começou a aprender a copeiro, a sapateiro, a lavar e engomar roupa e a costurar.”
Dizendo que esses anos foram sem maior significação, não entendo asseverar que não foram penosos. Para quem vinha de sua vida anterior, na Baía, em quadra descuidosa, rodeado de mimos, a lembrança dos dias decorridos desde aquele fatídico 10 de novembro de 1840, devia ser de um amargor de fél.
Vendido pelo pai, indefeso e inerme diante do inevitavel, arrancado ao seu habitat de origem, incapaz de provar a sua condição de criança livre, tudo lhe mostraria como era precária e incerta a justiça dos homens e como era egoisticamente feroz a sua maldade. Porque tudo, nos primórdios da existência desse menino desprotegido, parecia haver-se conluiado para fazer dele um bandido que havia de encher de horror os anais do crime brasileiro!
Felizmente para ele, aos dezesete anos, se lhe abre a primeira clareira na lenta e dolorosa escalada do caminho da glória que a vida the faria percorrer. Aparece na casa do alferes Cardoso, um rapaz, Antonio Rodrigues do Prado Junior, que vinha estudar na Capital.
Prado Junior afeiçoa-se ao pretinho e resolve alfabetizá-lo. E dando-lhe o conhecimento da técnica das primeiras letras, o recenvindo se torna a varinha mágica que havia de transformar inteiramente as diretrizes humanas do futuro abolicionista.