Êmulo de Camilo, o “escritor que melhor sabia passar uma descompostura”, sente-se em todas as suas profissões de fé, a raiva que lhe inspiravam todos os contrafatores da verdade. Tudo em Gama é arrebatamento. Fazendo versos ou jornalismo, advogando ou falando, é sempre o mesmo homem, tentando fazer esplender, com o fogo de sua paixão, com o entusiasmo de seu verbo, com a zombaria vergastante de seu riso, a Justiça, o Direito, a Lisura, a Retidão. E investe, sem medo, com um destrançamento de língua completamente fóra das normas do tempo, contra tudo que é arremedo, contra tudo que é falso, que é hipocrita, que é dissimulado.
Dissera ele, na “Prótase” de suas “Trovas Burlescas”:
«E podem colocar-se á retaguarda
os venerandos sábios de influência;
que o trovista respeita, submisso,
honra, pátria, virtude, inteligência.
Só corta com vontade nos malandros,
que fazem da nação seu montepio;
no remisso empregado, sacripante,
no lorpa, no peralta e no vadio.»
E ratifica no “Lá vai verso”, deixando bem claro sobre que alvos se encanzinaria de preferência sua musa irreverente:
«Quero a gloria abater de antigos vates
do tempo dos heroes armi-potentes;
os Homeros, Camões — aurifulgentes,
decantando os Barões da minha pátria!