outrora às práticas do mais austero ascetismo, e na solidão de sua cela deu-se à vida de penitência e contemplação com uma exaltação e fervor dignos dos antigos anacoretas dos desertos da Calcida, da Nitria e da Tebaida.
À força de orações e jejuns, vigílias e macerações, de novo conseguiu reduzir o seu corpo a múmia ambulante, e o espírito a um foco de visões beatíficas e fanáticas alucinações. Desta vez porém o áspero e pesado manto do ascetismo não logrou abafar a chama teimosa que abrasava o peito do mancebo. A fibra do seu coração tinha-se fortalecido com os anos. O vaso frágil das afeições infantis se convertera em urna diamantina, que conservava inteiro e inalterável o filtro fatal que os lábios de Margarida nele haviam vazado entre os beijos de mel e lágrimas de fogo.
Embora procurava o anjo da devoção, com a sombra mística de suas asas, acalmar os tumultuosos transportes daquela alma apaixonada. Na maior exaltação de seus êxtases beatíficos, no rigor de suas austeras mortificações, lá mesmo lhe aparecia a imagem de Margarida, formosa como visão celeste, e com um sorriso melancólico dizia-lhe com acento de triste e amarga exprobração: