Página:O seminarista (1875).djvu/187

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— Louco, que pretendes esquecer-me e pedes ao céu forças para ser perjuro e desapiedado! Lutas em vão; eu sou o anjo que leva ao céu teus pensamentos e tuas orações, e jamais consentirei que cheguem ao trono de Deus tuas mentirosas preces. Esquece-me se puderes, mas não peças auxílio ao céu para caíres no inferno!

Então Eugênio, alucinado e quase em delírio, batia com a fronte na terra, estorcendo-se e bradando com voz sufocada entre soluços:

— Perdão, Margarida, perdão!

Assim continuou por longo tempo a luta travada no espírito do mancebo entre o amor e a religião, entre duas paixões que com ele nasceram e com ele poderiam viver e fazer a sua felicidade, se as instituições humanas não houvessem erguido entre elas uma barreira insuperável.

Entretanto, a ausência, o decurso dos anos, a falta absoluta de relações e mesmo de notícias da mulher amada eram circunstâncias que não podiam deixar de influir poderosamente em desvantagem da paixão profana, que insensivelmente se ia arrefecendo como lâmpada velada, que se consome a si mesma e fenece à míngua de alimento. Outro tanto não acontecia ao misticismo, que alimentado por contínuas práticas de devoção,