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CASTRO ALVES

Das asas d’aguia dos céus...
Arquejam peitos e frontes...
Nos labios dos horizontes
Ha um riso de luz... E’ Deus.

A’s vezes quebra o silencio
Ronco estridulo feroz.
Será o rugir das mattas,
Ou da plebe a immensa voz?...
Treme a terra hirta e sombria...
São as vascas da agonia
Da liberdade no chão?...
Ou do povo o braço ousado
Que, sob montes calcado
Abala-os como um Titão?!...

Ante esse escuro problema
Ha muito ironico rir.
P’ra nós o vento da esp’rança
Traz o polen do porvir.
E emquanto o scepticismo
Mergulha os olhos do abysmo,
Que a seus pés raivando tem,
Rasga o moço os nevoeiros,
P’ra dos morros altaneiros
Ver o sol que irrompe além.

Toda noite — tem auroras,
Raios — toda a escuridão.
Moços, creiamos, não tarda
A aurora da redempção.
Gemer — é esperar um canto...
Chorar — aguardar que o pranto