Página:Obras completas de Fagundes Varela (1920), I.djvu/114

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Se o sou! que digam as plagas,
Onde do sangue nas vagas,
Coberta de enormes chagas
Dorme vil população;
Digam da Asia as bandeiras,
Digam longas cordilheiras,
Que se abatiam, rasteiras,
Ao corcel de Napoleão!

Se o sou! diga Santa Helena
Onde a mais sublime scena
Fechou tranquilla e serena
Minha historia de Titão,
Digam as ondas bravias,
Digam torvas penedias,
Onde as rijas ventanias
Vêm murmurar: — Napoleão.

— E serei! do céo, da gloria,
Nem dos bronzes da memoria
Nem das paginas da historia
Meus feitos se apagarão!
Assim na rocha isolada
Pelas espumas banhada,
Disse a sombra desterrada,
De prantos lavando o chão.

As nevoas rolam nos céos,
Da noite escura nos véos
Soltam negros escarcéos
Rugidos de imprecação;
Mas das sombras a espessura
A face da onda escura,
O salgueiro que murmura
Tudo falla — Napoleão!