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DEIXA-ME
Quando cançado da vigilia insana
Declino a fronte n’um dormir profundo,
Porque teu nome vem ferir-me o ouvido,
Lembrar-me o tempo que passei no mundo?
Por que teu vulto se levanta airoso,
Tremente em ansias de volupia infinda?
E as fórmas núas, e offegante o seio,
No meu retiro vens tentar-me ainda?
Porque me fallas de venturas longas,
Porque me apontas um porvir de amores?
E o lume pedes á fogueira extincta,
Dôces perfumes a pollutas flôres?
Não basta ainda essa existencia escura,
Pagina treda que a teus pés compuz?
Nem essas fundas, perennaes angustias,
Dias sem crenças e serões sem luz?
Não basta o quadro de meus verdes annos
Manchado e roto, abandonado ao pó?
Nem este exilio, do rumor no centro,
Onde pranteio desprezado e só?