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O EXILADO
O exilado está só por toda a parte!


Passei tristonho dos salões no meio,
Atravessei as turbulentas praças
Curvado ao peso de uma sina escura;
As turbas contemplaram-me sorrindo,
Mas ninguem divisou a dôr sem termos
Que as fibras de meu peito espedaçava.
O exilado está só por toda a parte!

Quando, á tardinha, dos floridos valles
Eu via o fumo se elevar tardio
Por entre o colmo de tranquillo albergue,
Murmurava a chorar: — Feliz aquelle
Que á luz amiga do fogão domestico,
Rodeado dos seus, á noite, senta-se.
O exilado está só por toda a parte!

Onde vão estes flocos de neblina
Que o euro arrasta nas geladas azas?
Onde vão essas tribus forasteiras
Que á tempestade se esquivar procuram?
Ah! que me importa?... tambem eu doudejo,
E onde irei, Deus o sabe, Deus sómente.
O exilado está só por toda a parte!