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Página:Obras completas de Fagundes Varela (1920), I.djvu/212

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No curral esbanjado, entre espinhos,
Já não bala ansioso o cordeiro,
— Nem desperta-se ao toque do sino —
— Nem ao canto do galo ao poleiro. —

Junto à cruz que se eleva na estrada
Seco e triste se embala o chorão,
Não há mais o esfumar das acácias,
Nem do crente a — sentida oração.

Não há mais uma voz nestes ermos,
Um gorjeio das aves no val,
Só a fúria do vento retroa
Alta noite agitando o ervaçal!

Ruge, oh vento gelado do norte,
Torce as plantas que brotam do chão,
Nunca mais eu terei as venturas
Desses tempos de paz que lá vão!

Nunca mais desses dias passados
Uma luz surgirá dentre as brumas!
As montanhas se embuçam nas trevas,
As torrentes se vendam de espumas !

Corre pois vendaval das tormentas,
Hoje é tua esta morna soidão!
Nada tenho, que um céu lutulento
E uma cama de espinhos no chão!

Ruge, voa, que importa! sacode
Em lufadas as crinas da serra,
Alma nua de crença e esperanças
Nada tenho a perder sobre a terra!