ano
Deixou a enxada e foi abri-la. Oh! Deus!
Não era um corpo humano, era um composto
De carnes laceradas, roxas, fétidas,
Inundadas de sangue! Massa informe
De músculos polutos, negro emblema
De quanto há de feroz, bárbaro e tétrico,
Cruentamente horrível! O cativo
Exalou da garganta um som pungente,
Tigrino, e tão selvagem, que o africano
Sentiu um calafrio; ergueu os olhos
Abrasados ao céu, depois sem forças
De joelhos caiu junto ao cadáver
E se desfez em lágrimas ardentes,
Em soluços doridos. Impassível,
Frio como as estátuas indianas,
O negro contemplava este espetáculo
Que abalaria de piedade as pedras,
E susteria as rábidas torrentes
Nas rochas encarpadas!
- Bem; é tempo,
Basta de inútil pranto! disse Mauro
Erguendo-se do chão; - e tu agora,
- Falou fitando o túrbido coveiro -
Cumpre teu dever!... De novo os olhos
Encheram-se de lágrimas. - Adeus!
Adeus! mísera irmã, tu és ditosa!
Deus te deu a coroa do martírio
Para entrares no céu; a corte angélica
Espera-te sorrindo... e eu inda fico,
E tenho de esgotar até às fezes
A taça envenenada da existência!
III
Tu passaste na terra como as flores
Que a geada hibernal derriba e mata;
Página:Obras completas de Fagundes Varela (1920), I.djvu/82
Aspeto