Nunca se vio, nem se escreve
Boca co’huma graça igual,
Se não fôra de coral,
E os dentes de côr de neve.
Dou-me eu a Deos, que me leve!
Soffrerei quanto tiverdes,
Não me tenhais olhos verdes.
Essa garganta merece
Outras palavras não minhas,
Senão qu’he feita em rosquinhas
D’alfenim, ao que parece.
Eu sei bem quem se offerece
A tomar tudo o que tendes,
E tambem os olhos verdes.
Essas mãos são ferropeas:
Só o vê-las enfeitiça;
Senão que são alvas, cheias,
E tẽe a feição roliça;
Com que appellais por justiça,
Para com ellas prenderdes
Quem vê vossos olhos verdes.
A vossa galantaria
Matará a quem fallardes:
Tendes huns desdens e tardes,
Que eu logo vos roubaria.
Oh dou-me a Santa Maria!
Sou cujo de quanto tendes,
E tambem desses olhos verdes.
Página:Obras completas de Luis de Camões III (1843).djvu/96
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