Se despois de esperança tão perdida,
Amor por causa alguma consentisse
Que inda algum'hora breve alegre visse
De quantas tristes vio tão longa vida;
Hum'alma ja tão fraca e tão cahida
(Quando a sorte mais alto me subisse)
Não tenho para mi que consentisse
Alegria tão tarde consentida.
Nem tamsomente o Amor me não mostrou
Hum'hora em que vivesse alegremente,
De quantas nesta vida me negou;
Mas inda tanta pena me consente,
Que co'o contentamento me tirou
O gôsto de algum'hora ser contente.
O raio crystallino se estendia
Por o mundo da Aurora marchetada,
Quando Nise, pastora delicada,
Donde a vida deixava se partia.
Dos olhos, com que o sol escurecia,
Levando a luz em lagrimas banhada,
De si, do fado, e tempo magoada,
Pondo os olhos no Ceo, assi dizia:
Nasce, sereno sol, puro e luzente;
Resplandece, purpurea e branca aurora,
Qualquer alma alegrando descontente;
Que a minha, sabe tu que desde agora
Jamais na vida a podes ver contente,
Nem tão triste nenhuma outra pastora.