Quem, Senhora, presume de louvar-vos
Com discurso que baixe de divino,
De tanto maior pena será dino,
Quanto vós sois maior ao contemplar-vos.
Não aspire algum canto a celebrar-vos,
Por mais que seja raro, ou peregrino;
Pois de vossa belleza eu imagino
Que só comvosco o Ceo quiz comparar-vos.
Ditosa esta alma vossa, a que quizestes
Pôr em posse de prenda tão subida,
Qual esta que benigna, em fim, me déstes.
Sempre será anteposta á mesma vida:
Esta estimar em menos me fizestes,
Se antes que ess'outra a quero ver perdida.
Moradoras gentis e delicadas
Do claro e aureo Tejo, que metidas
Estais em suas grutas escondidas,
E com doce repouso socegadas;
Agora esteis de amores inflammadas,
Nos crystallinos paços entretidas;
Agora no exercicio embevecidas
Das télas de ouro puro matizadas;
Movei dos lindos rostos a luz pura
De vossos olhos bellos, consentindo
Que lagrimas derramem de tristura.
E assi com dor mais propria ireis ouvindo
As queixas que derramo da Ventura,
Que com penas de Amor me vai seguindo.