Ah minha Dinamene! assi deixaste
Quem nunca deixar pôde de querer-te!
Que ja, Nympha gentil, não possa ver-te!
Que tão veloz a vida desprezaste!
Como por tempo eterno te apartaste
De quem tão longe andava de perder-te?
Puderão essas ágoas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?
Nem somente fallar-te a dura morte
Me deixou, qu'apressada o negro manto
Lançar sôbre os teus olhos consentiste.
Oh mar! oh ceo! oh minha escura sorte!
Qual vida perderei que valha tanto,
Se inda tenho por pouco o viver triste?
Guardando em mi a Sorte o seu direito.
Em verde me cortou minha alegria.
Oh quanto feneceo naquelle dia,
Cuja triste lembrança arde em meu peito!
Quando mais o imagino, bem suspeito
Que a tal bem tal desconto se devia,
Por não dizer o mundo que podia
Achar-se em seus enganos bem perfeito.
Pois se a Fortuna o fez por descontar-me
Aquelle gôsto, em cujo sentimento
A memoria não faz senão matar-me;
Que culpas póde dar-me o pensamento,
Se a causa qu'elle tẽe de atormentar-me,
Tenho eu de soffrer mal o seu tormento?