Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/247

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E logo hum nada os torna, ao contrário,
De todo ser humano differentes.
  Oh tyrannico Amor, oh caso vario,
Que obrigas a hum querer que sempre seja
De si contínuo e aspero adversario!
  E qu'outr'hora nenhuma alegre esteja,
Senão quando do seu despôjo amado
Sua inimiga estar triumphando veja.
  Quero fallar com este, qu'enredado
Nesta cegueira está sem nenhum tento.
Acorda ja, pastor, desacordado.
            ALMENO.
  Oh porque me tiraste hum pensamento,
Que agora estava aos olhos debuxando,
De quem aos meus foi doce mantimento?
            AGRARIO.
  Nesta imaginação estás gastando
O tempo e vida, Almeno? Perda grande!
Não vês quão mal os dias vás passando?
            ALMENO.
  Formosos olhos, ande a gente e ande;
Que nunca vos ireis dest'alma minha,
Por mais qu'o tempo corra, a morte o mande.
            AGRARIO.
  Quem poderá cuidar que tão asinha
Se perca o curso assi do siso humano,
Que corre por direita e justa linha?
  Que sejas tão perdido por teu dano,
Almeno meu, não he por certo aviso;
He só doudice grande, grande engano.{174}
            ALMENO.
  Ó Agrario