todos teus amigos e parentes,
Que lá da serra vem por consolar-te,
Sentindo na alma a pena, que tu sentes,
Se querem de teus males apartar-te,
Deixando a choça e gado vás fugindo,
Como cervo ferido, a outra parte.
Não vês que Amor, as vidas consumindo,
Vive só de vontades enlevadas
No falso parecer d'hum gesto lindo?
Nem as hervas das águas desejadas
Se fartão; nem de flores as abelhas;
Nem este Amor de lagrimas cansadas.
Quantas vezes, perdido entr'as ovelhas,
Chorou Phebo de Daphne as esquivanças,
Regando as flores brancas e vermelhas?
Quantas vezes as asperas mudanças
O namorado Gallo tẽe chorado
De quem o tinha envolto em esperanças?
Estava o triste amante recostado,
Chorando ao pé d'hum freixo o triste caso,
Que o falso Amor lhe tinha destinado.
Por elle o sacro Pindo e o grão Parnaso,
Na fonte de Aganippe destillando,
Se fazião de lagrimas hum vaso.
O intonso Apollo o vinha alli culpando,
A sobeja tristeza perigosa
Com asperas palavras reprovando.
Gallo, porqu'endoudeces? que a formosa
Nympha, que tanto amaste, descobrindo
Por falsa a fé, que dava, e mentirosa;
Por as Alpinas neves vai seguindo{
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