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Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/252

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Seu pasto; e andar-se-hão por a espessura
Das hervas os delfins apascentando.
  Ora se tu vês, n'alma quão segura
Deste amor tenho a fé, para qu'insistes
Nesse conselho e prática tão dura?
  Se de tua porfia não desistes,
Vae repastar teu gado a outra parte;
Qu'he dura a companhia para os tristes.
  Huma só cousa quero encomendarte,
Para repouso algum de meu engano,
Antes que o tempo, emfim, de mi te aparte:
  Que s'esta fera, qu'anda em traje humano,
Por a montanha vires ir vagando,
De meu despôjo rica e de meu dano,
  Comos vivos espritos inflammando
O ar, o monte e a serra, que comsigo
Continuamente leva namorando;
  Se queres contentar-me, como amigo,
Passando, lhe dirás: Gentil pastora,
Não ha no mundo vício sem castigo.
  Tornada em puro marmore não fôra
A fera Anaxarete, se amoroso
Mostrára o rosto angelico algum'hora.
  Foi bem justo o castigo rigoroso:
Porém quem te ama (Nympha) não queria
Nódoa tão feia em gesto tão formoso.
            AGRARIO.
  Tudo farei, Almeno, e mais faria
Por algum dia ver-te descansado,
Se s'acabão trabalhos algum dia.
  Mas bem vês como Phebo ja empinado{