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DURIANO.
Nenhum bem vejo, que a meu mal espere,
Se não fosse esperar que morte dura
Me venha emfim a dar a saudade.
Vejo faltar-me a tua formosura;
A vontade me diz que desespere,
Contradiz-me a razão esta vontade.
Diz qu'em huma beldade,
Em quem mostrou o cabo a natureza,
Não ha tanta crueza,
Qu'hum tão constante amor desprezar queira,
E fé tão verdadeira;
Mas tu, que de razão jamais curaste,
Porqu'era dar-me a vida, ma tiraste.
FRONDOSO.
A quem, Belisa ingrata, t'entregaste?
A quem déste, cruel, a formosura,
Qu'a meu tormento só, só se devia?
Porqu'huma fé deixaste, firme e pura?
Porque tão sem respeito me trocaste
Por quem só nem olhar-te merecia?
O bem que t'eu queria,
E que não perderei se não por morte,
Não he de maior sorte,
Que quanto a cega gente estima e preza?
Só a tua crueza
Foi nisto contra mi endurecida.
Perca, quem te perdeo, tambem a vida.
DURIANO.
Levaste-me o meu bem n'hum só momento;
Levaste-me com elle juntamente{194}
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