Saltar para o conteúdo

Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/280

Wikisource, a biblioteca livre

Torna, meu claro sol; torna, meu bem:
Qual he o Josué que te detém?
  Despois que deste valle t'apartaste,
Não pasce ja algum gado, com seccura;
Seccou-se o campo, des que lhe negaste
Dos teus formosos olhos a luz pura;
Seccou-se a fonte, donde ja te olhaste,
Quando menos, que agora, aspera e dura;
Nega sem ti a terra, ouvindo gritos,
Ás cabras pasto e leite a os cabritos.
  Sem ti, doce cruel minha inimiga,
A clara luz, escura me parece:
Este ribeiro, quando a dor m'obriga,
Com meu chorar por ti contino crece.
Não ha fera, a que a fome não persiga;
Algum prado sem ti ja não florece:
Cegos estão meus olhos; nada vem,
Porque não podem ver seu claro bem.
  O campo, como d'antes, não s'esmalta
De boninas azues, brancas, vermelhas;
Falta ágoa ao pasto, e sentem d'ágoa a falta
As candidas pacíficas ovelhas:
Bem conhecem tambem que o ceo lhes falta
As doces e solícitas abelhas:
Com lagrimas, que manão dos meus olhos,
A terra nos produz duros abrolhos.
  Torna pois ja, pastora, ao nosso prado,
Se restituir-lhe queres a alegria:
Alegrarás o valle, o campo, o gado,
E aquelle espelho teu da fonte fria.
Torna, torna, meu sol tão desejado,{