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Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/297

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assinárão;{223}
  Se o meu engenho he rudo, ou imperfeito,
Bem sabe onde se salva, pois pretende
Levantar com a causa o baixo effeito.
  Em vós minha fraqueza se defende;
Em vós instilla a fonte do Pegáso,
O que o meu canto por o mundo estende.
  Vêdes que as altas Musas do Parnaso
Cantando vos estão na doce lira,
Tomando-me das mãos tão alto caso.
  Vêdes o louro Apollo, que me tira
De louvar vossa estirpe, e escurece
O que a vosso louvor meu canto aspira.
  Ou por me haver inveja me fallece,
Ou por não ver soar na frauta ruda
O que a sonora cithara merece.
  Pois sei dizer, Senhor, que a lingua muda,
Em quanto Progne triste o sentimento
Da corrompida irmãa co'o pranto ajuda;
  E em quanto Galatea ao manso vento
Sólta os cabellos louros da cabeça,
E Tityro nas sombras faz assento;
  E em quanto flor aos campos não falleça,
(Se não recebeis isto por affronta)
Fará que o Douro e o Ganges vos conheça.
  E ja que a lingua nisto fica pronta,
Consenti que a minha Ecloga se conte,
Em quanto Apollo as vossas cousas conta.
  No cume do Parnaso, duro monte,
De sylvestre arvoredo rodeado,
Nasce huma crystallina e clara fonte,
  Donde hum manso ribeiro derivado,{224}