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Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/298

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Por cima d'alvas pedras mansamente
Vai correndo suave e socegado.
  O murmurar das ondas excellente
Os passaros incita, que cantando
Fazem o verde monte mais contente.
  Tão claras vão as ágoas caminhando,
Que no fundo as pedrinhas delicadas
Se podem, huma e huma, estar contando.
  Não se verão em derredor pizadas
De fera ou de pastor, que alli chegasse,
Porque de espesso monte são vedadas.
  Herva se não verá, que alli criasse
O monte ameno, triste ou venenosa,
Senão que lá no centro as igualasse.
  O roxo lirio a par da branca rosa,
A cecem pura, a flor que dos amantes
A côr tẽe magoada e saudosa;
  Alli se vem os myrtos circumstantes
Que a crystallina Venus encobrírão,
Escondendo-a dos Faunos petulantes.
  Hortelãa, mangerona, alli respirão,
Onde nem frio inverno, ou quente estio,
As murchárão jamais, ou sêccas vírão.
  Dest'arte vai seguindo o curso o rio,
O monte inhabitado e o deserto
Sempre com verdes árvores sombrio.
  Aqui huma linda Nympha, por acêrto
Perdida da fragueira companhia,
A quem este lugar era encoberto;
  Cansada ja da caça vindo hum dia,
Quiz descansar á sombra da floresta,{225}