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Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/305

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Melhor qu'eu o dirá a subtil donzella,
Que ja na sua téla o debuxou.
  Ah caso grande e grave!
Ah peitos de diamante fabricados,
E das leis absolutos naturais!
Aquelle amor suave,
Aquelle poder alto, que forçados
Os deoses obedecem, desprezais?
Pois quero que saibais,
Que contra o fero Amor nunca houve escudo:
Costume he seu tomar vingança em tudo.
Eu vos verei lançar em hum momento
Suspiros mil ao vento,
Lagrimas, triste pranto e nova dor
Por quem tenha outro amor no pensamento.
  Mais quizera dizer
O desditoso amante, que ajudado
Se via então da mágoa e da tristeza;
Mas foi-lho defender
O outro companheiro, como irado
Com tão disforme e aspera dureza.
Aquillo que a rudeza
D'huma sciencia agreste lh'ensinára,
Disse, qual se em tal ponto despertára
D'horrendo sonho com pezado grito.
O mais que alli foi dito,
Vós, montes, o direis, e vós penedos;
Qu'em vossos arvoredos anda escrito.
            SATYRO SEGUNDO.
  Nem vós nascidas sois de gente humana,
Nem foi humano o leite que mamastes,{232}