Ja a roxa manhãa clara
As portas do Oriente vinha abrindo;
Os montes descobrindo
A negra escuridão da luz avara.
O sol, que nunca pára,
Da sua alegre vista saudoso,
Traz ella pressuroso
Nos cavallos cansados do trabalho,
Que respirão nas hervas fresco orvalho,
S'estende claro, alegre e luminoso.
Os passaros voando,
De raminho em raminho vão saltando;
E com suave e doce melodia
O claro dia estão manifestando.
A manhãa bella, amena,
Seu rosto descobrindo, a espessura
Se cobre de verdura
Clara, suave, angelica, serena.
Oh deleitosa pena!
Oh effeito d'Amor alto e potente!
Pois permitte e consente
Qu'ou donde quer qu'eu ande, ou dond'esteja,
O seraphico gesto sempre veja,
Por quem de viver triste sou contente.
Mas tu, Aurora pura,
De tanto bem dá graças á ventura,
Pois as foi pôr em ti tão excellentes,
Que representes tanta formosura.