A luz suave e leda
A meus olhos me mostra por quem mouro,
Com os cabellos d'ouro,
Que nenhum ouro iguala, se os remeda.
Esta a luz he que arreda
A negra escuridão do sentimento
Ao doce pensamento;
Os orvalhos das flores delicadas
São nos meus olhos lagrimas cansadas,
Qu'eu chóro co'o prazer de meu tormento;
Os passaros que cantão,
Meus espiritos são, que a voz levantão,
Manifestando o gesto peregrino
Com tão divino som, que o mundo espantão.
Assi como acontece
A quem a chara vida está perdendo,
Qu'em quanto vai morrendo,
Alguma visão santa lh'apparece;
A mim em quem fallece
A vida, que sois vós, minha Senhora,
A est'alma, qu'em vós mora
(Em quanto da prisão s'está apartando)
Vos estais justamente apresentando
Em fórma de formosa e roxa Aurora.
Oh ditosa partida!
Oh gloria soberana, alta e subida!
Se me não impedir o meu desejo;
Porque o que vejo, emfim, me torna a vida.
Porém a natureza,
Que nesta pura vista se mantinha,
Me falta tão asinha,
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CANÇÕES.