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O desejo privado d'esperança,
Que tão mal se podia ja mudar?
Agora a saudade do passado,
Tormento puro, doce e magoado,
Que converter fazia estes furores
Em magoadas lagrimas d'amores?
Que desculpas comigo só buscava,
Quando o suave Amor me não soffria
Culpa na cousa amada, e tão amada!
Erão, emfim, remedios que fingia
O medo do tormento, qu'ensinava
A vida a sustentar-se d'enganada.
Nisto huma parte della foi passada;
Na qual se tive algum contentamento
Breve, imperfeito, timido, indecente,
Não foi senão semente
D'hum cumprido, amarissimo tormento.
Este curso contino de tristeza,
Estes passos vãamente derramados,
Me forão apagando o ardente gôsto,
Que tão de siso n'alma tinha pôsto,
Daquelles pensamentos namorados
Com que criei a tenra natureza,
Que do longo costume da aspereza,
Contra quem fôrça humana não resiste,
Se converteo no gôsto de ser triste.
Dest'arte a vida em outra fui trocando;
Eu não, mas o destino fero, irado;
Qu'eu, inda assi, por outra a não trocára.
Fez-me deixar o patrio ninho amado,
Passando o longo mar, que ameaçando{338}
Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/411
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