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Meus olhos, vos abristes,
Cerrára-vos o somno eternamente,
Antes que ver-vos tristes,
Perdendo tão suave e doce engano!
Agora, com meu dano,
Vêdes, para mor mágoa, claramente,
Neste bem fugitivo e somno leve,
Que mal não ha mais longo, que hum bem breve.
Ditoso Endymião que a deosa chara,
Que a noite vai guiando,
Teve em braços sonhando!
Ah quem de sonho tal nunca acordára!
Tu só, Aurora avara,
Quando os olhos feriste,
Me mataste cruel d'inveja pura.
Mas se d'esta alma triste
A negra escuridão vencer quizeste,
Sabe qu'em vão nasceste;
Que para desfazer-se a nevoa escura
De meus olhos, importa estar presente
Outro sol, outra aurora, outro Oriente.
Se a luz de meu Planeta,
Não m'aviva, Canção, branda e quieta,
Qual flor de chuva, em breve consumida,
Verás desfeita em lagrimas a vida.{352}
CANÇÃO
Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/425
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