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SONETOS.


VI.

Illustre e digno ramo dos Menezes,
Aos quaes o providente e largo Ceo
(Que errar não sabe) em dote concedeo,
Rompessem os Maometicos arnezes;

Desprezando a Fortuna e seus revezes,
Ide para onde o Fado vos moveo;
Erguei flammas no mar alto Erythreo,
E sereis nova luz aos Portuguezes.

Opprimi com tão firme e forte peito
O Pirata insolente, que se espante
E trema Taprobana e Gedrosia.

Dai nova causa á côr do Arabo Estreito;
Assi que o Roxo mar, daqui em diante
O seja só com sangue de Turquia.



VII.

No tempo que de amor viver sohia,
Nem sempre andava ao remo ferrolhado;
Antes agora livre, agora atado,
Em várias flammas variamente ardia.

Que ardesse n'hum só fogo não queria
O Ceo porque tivesse exprimentado
Que nem mudar as causas ao cuidado
Mudança na ventura me faria.

E se algum pouco tempo andava isento,
Foi como quem co'o pêzo descansou
Por tornar a cansar com mais alento.

Louvado seja Amor em meu tormento,
Pois para passatempo seu tomou
Este meu tão cansado soffrimento!