Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v1.djvu/130

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No cinábrio do empíreo derramando
A nuvem que roxeia...
 
Hora solene das idéias santas
Que embala o sonhador nas fantasias,
Quando a taça do amor embebe os lábios
Do anjo das utopias!
 
Oceano de Deus! Que moribundo,
A cantiga do nauta mais sentida
Tão triste suspirou nas tuas ondas,
Como um adeus à vida?
 
Que nau cheia de glória e d'esperanças,
Floreando ao vento a rúbida bandeira,
Na luz do incêndio rebentou bramindo
Na vaga sobranceira?
 
Por que ao sol da manhã e ao ar da noite
Essa triste canção, eterna, escura,
Como um treno de sombra e de agonia,
Nos teus lábios murmura?
 
É vermelho de sangue o céu da noite,
Que na luz do crepúsculo se banha:
Que planeta do céu do roto seio
Golfeja luz tamanha?