de vida que lhe bebia no romper das veias o vampiro castelhano. Voltemos atrás ainda. Quando Portugal retumbava na sua era mais épica às vitórias dos Adenfosíades e varria como uma catadupa ao britar de suas garras de leão as miríadas mouriscas das terras dadas ao conde Henrique, a contemporânea Castela ufanava-se aos cantos triunfais da Cristandade livre. Quando os sucessores de Colombo, Fernando Cortez e Pizarro lastravam as pegadas sangüentas de suas grevas pelas praias americanas, ao devassar com seu pugilo de bandidos as florestas, ao bater dos acicates de ouro no colo azumbrando dos Incas e Las Casas catequizava os selvagens, Pedr'Álvares Cabral erguia em Porto Seguro o padrão português, Martim Afonso e Pero Lopez de Souza roteavam as costas da terra de Santa Cruz, Nóbrega e Anchieta, dois jesuítas, fundavam a Capitania de São Vicente.
A sina das duas nações, ou antes a história dos povos, é a mesma: e para evitar o transbordar de uma na outra, um Papa alinhava no globo a raia limítrofe dos dois povos no novo mundo. Navegações, conquistas, tudo... ia-lhes de par: vedes os portugueses na África? - lá estão também os espanhóis. Instinto guerreiro, mesmo bulhar de sangue irmão, aspiração rival de competências gloriosas ou instinto de equilíbrio político, o que sobressai nisto tudo é o esmalte aventuroso daqueles corações. Longe fomos: não duvidamos que demais para um preâmbulo.