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Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/239

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Satan: És triste como um sino que dobra. Não falemos nisto. Fala-me antes na beleza de alguma virgem nua, na languidez de uns olhos negros, na convulsão que te abala nalguma hora de deleite. A minha guitarra está ali: queres que te cante alguma modinha? Pela lua! estás distraído como um fumador de ópio!

Macário: No que penso? Hás de rir se contar-t'o. É uma história fatal.

Satan: Deixa-me acender outro charuto. Muito bem. Conta agora. É algum romance?

Macário: Não: lembrei-me agora de uma mulher. Uma noite encontrei na rua uma vagabunda. A noite era escura. Eu ia pelas ruas à toa Segui-a. Ela levou-me à sua casa. Era um casebre. A cama era um catre: havia um colchão em cima, mas tão velho, tão batido, que parecia estar desfeito ao peso dos que aí haviam-se revolvido. Deitei-me com ela. Estive algumas horas. Essa mulher não era bela: era magra e lívida. Essa alcova era imunda. Eu estava aí frio: o contato daquele corpo amolecido não me excitava sensações: e contudo eu mentia à minha