Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/257

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Não é verdade que a mulher é um anjo?

Macário: Sim-é um anjo que nos adormece, e nos seus braços nos leva a uma região de sonhos de harmonias desconhecidas. Sua alma se perde conosco num infinito de amor, como essas aves que voam à noite, e se mergulham no seio do mistério.

Penseroso: A mulher! Oh! se todos os homens as entendessem' Essas almas divinas são como as fibras harmoniosas de uma rabeca. O ignorante não arranca dela um som melodioso embalde suas mãos grosseiras revolvem e apertam o arco sobre elas-embalde! somente sons ásperos ressoam. Mas que a mão do artista as vibre, que a alma do músico se derrame nelas, e do instrumento grosseiro do mendigo ignorante, ou do cego vagabundo, como do Stradivarius divino, exalam-se ais, vozes humanas, suspiros e acentos entrecortados de lágrimas.

Macário: Oh! sim! Se na vida há uma coisa real e divina é a arte-e na arte se há um raio do céu é na música. Na música que nos vibra as cordas da alma, que nos acorda da modorra da existência a alma embotada. Oh! é tão doce sentir a voz vaporosa que trina, que nos enleva- c que parece que nos faz desfalecer, amar, e morrer!

Penseroso: