Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/280

Wikisource, a biblioteca livre

até que o sono feche meus olhos e que eu adormeça na relva fria das orvalhadas da noite. Adeus.

(A mesma sala. )

Penseroso só (escreve): Não escreverei mais: não. Calarei o meu segredo e morrerei com ele. Esqueceu tudo! tudo! Esqueceu as noites solitárias em que eu estava a sós com ela, com sua mão na minha, com seus olhos nos meus. Esqueceu! Deus lhe perdoe. E se eu morro por ela, seja ela feliz!

Mas por que mentia se ela se ria de mim? Por que aqueles olhares tão lânguidos, aqueles suspiros tão doces? Por que sua mão estremecia nas minhas e se gelava quando eu a apertava? Por que naquela noite fatal, quando eu a beijei, ela escondeu seu rosto de virgem nas mãos, c as lágrimas corriam por entre seus dedos, e ela fugiu soluçando ? ( Pensativo ) .

Ela não me ama-é certo. Nunca, nunca ela me teve amor: a ilusão morreu Oh! não morrerei com ela? Ontem falei com Davi sobre o suicídio. Davi declamou, repetiu o que dizem esses homens sem irritabilidade de coração, que julgam que as palavras provam alguma coisa. Eu sorri. Davi é feliz-ele sim, nunca