Não sei como se passou o tempo todo que decorreu depois. Foi uma visão de gozos malditos — eram os amores de Satan e de Eloá, da morte e da vida, no leito do mar.
Quando acordei um dia desse sonho, o navio tinha encalhado num banco de areia: o ranger da quilha a morder na areia gelou a todos Meu despertar foi a um grito de agonia
— Olá, mulher! taverneira maldita, não vês que o vinho acabou-se?
Depois foi um quadro horrível! Éramos nós numa jangada no meio do mar. Vós que lestes o Don Juan, que fizestes talvez daquele veneno a vossa Bíblia, que dormistes as noites da saciedade como eu, com a face sobre ele — e com os olhos ainda fitos nele vistes tanta vez amanhecer — sabeis quanto se core de horror ante aqueles homens atirados ao mar, num mar sem horizonte, ao balouço das águas, que parecem sufocar seu escárnio na mudez fria de uma fatalidade!
Uma noite — a tempestade veio — apenas houve tempo de amarrar nossas munições Fora mister ver o Oceano bramindo no escuro como um bando de leões com fome, para saber o que é a borrasca — fora mister vê-la de uma jangada a luz da tempestade, as blasfêmias dos que não crêem e maldizem, as lágrimas dos que esperam e desesperam, aos soluços dos que tremem e tiritam de susto como aquele que bate a porta do nada... E eu, eu ria: era como o gênio do ceticismo naquele deserto. Cada