Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v3.djvu/162

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como o fausto de Goethe no Brocken, sente-se tomado de asco invencível por aquelas fealdades nuas. O soco romano-grego tornou-se tamanco imundo da vagabunda desbocada!

É triste pensá-lo – mas se é verdade que o teatro é o espelho da sociedade, que negra existência deve ser a da gente que aplaude frenética aquela torrente de lodo que salpica as faces dos espectadores!

A farsa embotou o gosto e matou a comédia. O palhaço enforcou o homem de espírito. Arlequim fez achar insípido o Tartufo.

E contudo, nós que nos fizemos homem no tempo em que João Caetano se não envergonhava de representar Casanova, nós que o vimos, não há muito, vestir o disfarce de Robin, embuçar-se no manto roto de Don César de Bazan, que soltamos boas gargalhadas ante o Auto de Gil Vicente e Robert Macaire, não podemos deixar de lamentar que ele desdenhe a máscara da comédia.

E contudo Molière – um gênio – era cômico. Shakespeare preferia a galhofa das Alegres Mulheres de Windsor, What you will, A Tempestade etc., aos monólogos de Henrique III, ao desespero do Rei Lear, à dúvida de Hamlet. Kean despia o albornoz e o turbante do Mouro de Veneza para tomar o abdômen protuberante, e o andar vertiginoso, as faces ardentes de embriaguez do bom vivant cavaleiro da noite, amante da lua, sir Jack Falstaff!