Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/197

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Se o ver-me neste estado é maravilha,
b Garcia, lhe diz, humilde e nua,
Eu sou Neágua, eu sou a escrava tua.
Muitas luas, me lembro, têm passado,
Desde quando dos vossos atacado
Foi meu esposo Caribó: seguidos
Vínheis de muitos arcos, socorridos
Do Coroa, do Paraci valente:
Assaltastes de noite a nossa gente,
E mortos os mais destros na peleja,
Fosse rigor do Céu, ou fosse inveja
Da Fortuna, eu, que a Aldeia governava,
Passei com minha filha a ser escrava.

Era ela em seus anos tão mimosa,
Que à vista sua desmaiava a rosa,
Seus olhos claros, as pupilas belas,
Oh! quantas vezes cri que eram estrelas!
Não tinham nossos campos, nem o prado
Planta mais tenra, flor de mais agrado;
Enfim, porque de vós as cores tome,
De Aurora os vossos lhe dão hoje o nome.

Vagando estes sertões na companhia
Dos vossos, eu me lembro como um dia,
A preço do metal, que desprezamos,
Vós nos comprastes; ainda nos lembramos
Do mimo do agasalho que fizestes,
Quando na vossa casa recolhestes
A mim e a minha Aurora: esta memória
Desperte toda em vós a antiga história,

Como? Por que arte? Por que modo fora
Trazida dentre os seus? A sua Aurora,
Se a seguira também? Se vive? E aonde?
Garcia lhe pergunta; ela responde: