Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/202

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O sonho muitas vezes repetido,
Desde que tenho a idéia concebido
De entrar para estas Minas, me figura
Um mistério na sombra e na pintura.
Vós, que por tantas vezes discorrido
Tendes estes Sertões, tereis ouvido ,
O nome de Itamonte; esta lembrança,
Este sinal só tenho de esperança;
Talvez tomando o cume desta Serra,
Acharemos um dia o Rio, a Terra,
A Ninfa e os mais portentos, donde tome,
Dos tesouros que espero, a Vila, o nome.

Calou-se o General, e qual murmura
Uma abelha, e mais outra, quando a pura
Substância chupam das mimosas flores,
Assim, não de outra sorte, entre os rumores
Do inquieto coração, estão falando
Entre si cada um, e estão pensando;
Rompe o silêncio o próvido Faria:
Eu dos primeiros fui, eu fui, dizia,
Dos primeiros que o berço abandonado
Deixei, mais do fervor estimulado
De reduzir os Índios à justiça
Da nossa religião, que da cobiça.
Entrei estes países e inda noto
Em cada tronco os pousos onde, roto
O vestido, tentei passando avante
O giro dos Sertões; de bem distante
Parte dos grossos matos descobria
Uma elevada e tosca penedia,
A quem coroa um pico a altiva frente.
Demandei esta rocha, e do eminente
De toda ela um ribeiro vi que nasce,
Que do Sol recolhendo dentro a face