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Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/206

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E eu (ó duro extremo da desgraça!),
Rendido a todo o lance, só procuro
Mitigar-lhe o rancor; um braço duro,
Sacrílego, insolente, infame, ousado,
Sem que eu presuma o bárbaro atentado,
Se arroja dentre os meus; dispara um tiro,
E a alma envolta no mortal suspiro
Voou, deixando a mágoa em que me vejo,
Para salvar a vida, a honra e o pejo.
A notícia do caso acende a ira
Em todos os que o seguem; já conspira
Em meu dano o parente e mais o amigo;
Querem vingar a morte de Rodrigo;
Em vão lhes serve de reparo ou freio,
A inocência em que estou; medito um meio
De salvar-me; em esquadras divididas
Reparto a gente, sobre as mais crescidas
Montanhas, de onde fossem descobertas.

As estradas ao longe em parte abertas
Davam já vista aos ímpios conjurados,
Quando os tambores e os clarins tocados
Em vários sítios amotinam tudo:
Cresce o temor ao meditado estudo,
E crêem que era chegado Fernão Dias.
Amparado do engano, as Serras frias
Destes Sertões dobrei; passo a corrente
De um grande Rio, e a margem florescente
Piso, apenas de alguns acompanhado;
Aqui descubro um plano dilatado,
Cômodo à criação; nele apascento
Por muito tempo o gado, e em novo aumento
Às descobertas Minas já preparo
Na fome e na penúria o bom reparo.