De encosto o mole braço está servindo.
Chega a Maga cruel, põe-lhe diante
A fera que conduz, e ao mesmo instante
Se oculta em parte onde o sucesso veja.
O cuidado de a ver, ou fosse a inveja,
Àquele sítio encaminhava os passos
Do destemido Argasso; entre embaraços
De mal distintos ramos, já descobre
O mosqueado tigre, ao braço nobre
O crê despojo, e de matá-lo espera;
Firme o pé desde longe aponta a fera,
E atrás puxando o braço a seta envia,
Que vai cravar no monstro aponta fria.
Corre gritando - oh! Céus! - e vê passado
De Aurora o peito; em vão busca assombrado
O tigre, que não há; já desfalece
A pouco a pouco a bela; a mágoa cresce
No mísero homicida, clama e grita,
Atroa os Céus, e contra os Céus se irrita;
Nem mais a vida, que estimara, preza;
Arroja o arco, e à infeliz beleza
Consagra de seu corpo o último resto.
"Amor, disse, cruel, pois que funesto
Foi o fim de um princípio tão ditoso,
Pois que cortastes o vínculo gostoso
Que a dita, a mesma dita ia tecendo;
Bem que inocente o impulso inda estou vendo,
Que animou este braço, acabe o peito,
Onde ele se forjou; roto e desfeito
O véu que cerca esta alma, ela se aparte,
Indiana adorada, ou a pagar-te
Com seu eterno pranto a dura ofensa,
Ou a pôr de teus olhos na presença,
A mágoa enfim de um erro involuntário."
Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/230
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