Não acuse de Eulina o brando peito;
Talvez Amor tirano a teu respeito
Quis que eu fosse cruel, e involuntário
Seguiu meu pensamento esse contrário
Influxo das Estrelas; eu te amava,
E dentro da minha alma protestava
Não render o troféu desta beleza
Mais que aos suspiros teus, e à chama acesa
De Amor, que nos teus olhos percebia.
Apolo, o ingrato Apolo é quem devia
Ser contigo mais brando e mais propício:
A culpa é só de Aucolo; o sacrifício,
O voto que ele fez ao Deus tirano,
Tudo enfim se ajuntou para o teu dano.
Talvez não conhecia eu, desgraçada,
Que eras tu o que então com mão armada
Me estavas a esperar lá perto à fonte.
Este aleivoso Deus, para que conte
Da minha história a triste desventura,
Depois que presa a minha formosura
Entre a nuvem levara enganadora,
Faltando a toda a fé, me ordena agora
Que eu torne ao pátrio berço, e convertida
Em Ninfa destas águas, passe a vida
Entregue sempre a míseros lamentos.
Oh! e quem crê de um Deus nos juramentos!
Aqui o teu sussurro estou ouvindo,
E nele a tua queixa inda sentindo,
Quando escapada aos amorosos laços
Dizer-te escuto: "Onde a meus ternos braços,
Onde te escondes, onde, amada Eulina,
Quem tanto estrago contra mim fulmina?"
Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/233
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