Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/259

Wikisource, a biblioteca livre

Das orelhas; por tudo um triste agouro
Respirou: muitas árvores tremeram,
Os pássaros do dia se esconderam,
Só os da noite sussurrar se viram.
Juram, dando-se as mãos os dois, e tiram
Cada qual sua pedra; a branca expunha
Sorte feliz; a negra testemunha
A perda da consorte; está jurado
Sofrer com paz o que não for premiado.
Blázimo vence, Argante se retira,
E simulando a dor, geme e suspira.
"Viva Blázimo!", dizem: logo as vozes
A Argante vão ferir, e tão atrozes
Passam a ser as fúrias em seu peito,
Que desde aquele instante faz conceito
De vingar sua dor, roubando a glória
Ao mesmo que o privara da vitória.

Com rosto disfarçado quer contudo
Lograr o golpe; um meditado estudo
Lhe lembra a ocasião, o sítio, e a hora
De banhar toda em sangue a mão traidora:
"Eu, diz Argante, eu devo entrar em parte
Nas vossas glórias; todo o esforço d'arte
E do engenho porei, por que se veja
Que cedo alegre, e não me arrasta a inveja.
Na minha aldeia, e entre os meus povos quero
Festejar vossas núpcias; nela espero
Dar-vos provas do gosto e da alegria
Que me sabe trazer tão fausto dia.
Ali de firme paz e de aliança
Farei novo concerto, e da vingança
Cederá de uma vez o vil projeto"
(Oh! dura força de um mentido afeto!).
Aceita Alpino: Blázimo é contente,