Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/268

Wikisource, a biblioteca livre

do trabalho
Com que o sábio mineiro entre o cascalho
Busca o louro metal, e com que passa
Logo a purificá-lo sobre a escassa
Tábua, ou canal do liso bulinete,
Com que entre a negra areia ao depois mete
Todo o extraído pó nos lisos vasos
(Que uns mais côncavos são, outros mais rasos)
E aos golpes d'água da matéria estranha
O separa e divide; alta façanha
De agudo engenho! A máquina aparece,
Que desde a sua altura ao centro desce
Da profundada cata, e as águas chupa.

Vê-se o outro mineiro, que se ocupa
Em penetrar por mina o duro monte
Ao rumo oblíquo, ou reto; tem defronte
Da gruta, que abre, a terra que extraíra;
Os lagrimais das águas que retira
Ao tanque artificioso logo solta;
Trazida a terra entre a corrente envolta,
Baixa as grades de ferro; ali parados,
Os grossos esmeris são depurados,
Deixando ao dono em prêmio da fadiga
Os bons tesouros da fortuna amiga.

Por entre a pedra estoutro vai buscando
As betas de ouro; aquele vai trepando
Pelo escabroso serro, e as águas guia
Pelos canais que lhe abre a pedra fria.

Não menos mostra o Gênio a agricultura
Tão rara do País, aonde a dura
Força dos bois não geme ao grave arado;
Só do bom lavrador o braço armado
Derriba os matos, e se ateia logo
Sobre a seca matéria o ardente fogo.