Da mole produção da cana loura
Verdeja algum terreno, outro se doura;
O lavrador a corta, e lhe prepara
As ligeiras moendas; ali pára
O espremido licor nos fundos cobres:
Tu, ardente fornalha, me descobres
Como em brancos torrões haja tornado
A estímulos do fogo o mel coalhado.
O arbusto está, que o vício tem subido
A inestimável preço, reduzido
A pó sutil o talo e a folha inteira.
Não menos brota a oriental figueira
Com as crescidas folhas, e co'o fruto,
Que inda nos lembra o mísero tributo,
Que pagam nossos Pais, que já tiveram
A morada do Éden e não puderam
Guardar por muito tempo a lei imposta
(Ó natureza ao Criador oposta!).
Os pássaros se vêem de espécie rara
Que o Céu de lindas cores emplumara;
As feras e animais mais esquisitos
Todos no alegre mapa estão descritos,
Os olhos deleitando e entretendo
O Herói que facilmente o está crendo,
Ao ver que destra mão dar-lhes procura
A vida que lhes falta na pintura.
Mas já lavrado estava e já firmado
O termo, que escrevera o bom Pegado;
Quando mais que a eleição, podendo o acaso,
Manda o Herói que se extraiam dentre um vaso
Os nomes dos primeiros a quem toca
Reger a Vara que a justiça invoca.
Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/269
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