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ODES MODERNAS


Ah! quo se espera então? O sangue corre,

Corre em ribeiras sobre a terra dura...

Não ha já fonte, n’esse chão, que jorre

Senão lagrimas, dôr, e desventura...

O ultimo lirio, a Fé, seccou-se... morre!... Se não é esta a hora da ventura,

Do resgate final dos padecentes,

Por que esperaes então, céos inclementes?


Sim! por que é que esperaes? Tem-se soffrido,

Temos soffrido muito, muito! e agora

Desceu o fel ao coração descrido,

Vem já bem perto nossa extrema hora...

Abale-se o universo commovido!

Deixe o céo radiar a nova aurora!

Que os peitos soltem o seu longo emfim!

E o olhar de Deus na terra escreva: Fim!


Fim d’esta provação, fim do tormento,

Mas da verdade, mas do bem, começo!

Erga-se o homem, atirando ao vento

0 antigo Mal, com tragico arremesso!

Na nossa tenda tome Deus assento,

Mostre seus cofres, seus coraes de preço,

Que se veja a final quanto guardava

Para o resgate d'esta raça escrava!