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Precede-os Palas de lanterna de ouro.
«Meu pai, observa o moço, que milagre!
As paredes, as traves abietinas,
As grossas vigas, as colunas altas,
Em lume vivo aos olhos me lampejam:30
Um deus parece dentro esclarecê-las.»

«Tá! não tujas, o atalha o sábio Ulysses:
Os íncolas do Olympo assim costumam.
Deita-te: á espreita eu fico das criadas;
Esperarei que em pranto me interrogue35
Tua mãe.» — Ei-lo busca a própria alcova
No meio do esplendor, e em brando sono
Pega até que desponte a diva aurora;
Mas o herói permanece com Minerva,
A pensar no horroroso morticínio.40

Sai, qual Diana casta ou loura Vênus,
Penélope do tálamo, e lhe achegam
Ao lar o usado assento, obra de argênteas
E ebúrneas orlas, do famoso Icmálio,
De apto escabelo e forro de pelame.45
As cativas gentis ali vieram
Erguer das mesas muito pão restante,
E a copa que servira aos convidados;
Em terra as brasas dos fogões depondo,
Lenha renovam, que ilumine e aqueça.50
Doesta a Ulysses outra vez Melântia:
«Á noite, malandrino, inda importunas?
Espias as mulheres? Farto e impando,
Fora, fora; ao contrário, atiçoadas
Eu te farei mais presto escafeder-te.»55

Averso a encara: «Insultas-me, demonio,
Por que, em vez de luzir, mesquinho e roto
A mendigar meu pão sou constrangido?
É de errabundos sina. Eu já palacio
Tive e escravos, e o mais que adita os homens,60
E a quaisquer indigentes socorria:
Ora o querer de Jove arruninou-me!
Também murchar-te a formosura pode,
Que entre as servas te exorna; pode irada
Reprimir-te a rainha, e mesmo aquele65