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INSUFICIÊNCIA DOS DOCUMENTOS GEOLÓGICOS
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briana? Eis uma questão a que não posso dar uma resposta satisfatória. Muitos geólogos eminentes, com sir R. Murchison na vanguarda, estavam, recentemente ainda, convencidos que vemos os primeiros vestígios de vida nos restos orgânicos que nos fornecem as camadas silúricas mais antigas. Outros juízes, muito competentes, tais como Lyell e E. Forbes, contestam esta conclusão. Não esqueçamos que conhecemos um pouco exactamente apenas uma pequena porção do globo. Não há muito tempo que M. Barrande juntou ao sistema silúrico um novo andar inferior, povoado de numerosas espécies novas e especiais; mais recentemente ainda, M. Hicks encontrou, no sul do País de Gales, camadas pertencendo à formação cambriana inferior, ricas em trilobitas, e contendo além disso diversos moluscos e diversos anelídeos. A presença de nódulos fosfáticos e de matérias betuminosas, mesmo em algumas das rochas azóicas, parece indicar a existência da vida desde esses períodos. A existência do eozoon na formação laurentina, no Canadá, é geralmente admitida. Há no Canadá, abaixo do sistema silúrico, três grandes séries de camadas; é na mais antiga que se encontra o eozoon. W. Logan afirma «que a espessura das três séries reunidas ultrapassa provavelmente muito a de todas as rochas das épocas seguintes, desde a base da série paleozóica até aos nossos dias. Isto faz-nos recuar tão longe no passado, que se pode considerar a aparição da fauna chamada primordial (de Barrande) como um facto relativamente moderno». O eozoon pertence à classe dos animais mais simples no ponto de vista da organização; mas, apesar desta simplicidade, é admiràvelmente organizado. Existiu em quantidades inumeráveis, e, como o fez notar o Dr. Dawson, devia certamente nutrir-se de outros seres organizados mais simples, que devem ter igualmente pululado em número incalculável. Assim são verdadeiras as notas que fizemos em 1859, com respeito à existência de seres que tenham vivido muito tempo antes do período cambriano, e os termos de que me servi então são quase os mesmos de que se serviu mais tarde sir W. Logan. Não obstante, a dificuldade de explicar, com boas razões, a ausência de vastos pavimentos de camadas fossilíferas abaixo das formações do sistema cambriano superior fica sempre muito grande. É pouco provável que as camadas mais antigas tivessem sido completamente destruídas por desnudação, e que os fósseis fossem inteiramente obliterados a seguir por uma acção metamórfica; porque, nesse caso, teríamos encontrado também apenas fracos vestígios das formações que se lhes seguiram imediatamente, e esse restos apresentariam sempre sinais de alteração metamórfica. Ora, as des-