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ORIGEM DAS ESPÉCIES

uma só espécie de cada um dos antigos géneros deixou descendentes modificados, constituindo as diversas espécies dos géneros novos; as outras sete espécies de cada um dos antigos géneros deviam ter-se extinguido sem deixar posteridade. Ou então (é provavelmente este o caso mais frequente), duas ou três espécies, pertencendo a dois ou três dos seis géneros antigos, têm sido as únicas a servir de origem aos novos géneros, as outras espécies e todos os outros géneros desapareceram totalmente. Nas ordens em via de extinção, de que os géneros e as espécies decrescem pouco a pouco em número, como na dos desdentados da América do Sul, um menor número ainda de géneros e de espécies devem deixar descendentes modificados.

RESUMO DESTE E DO PRECEDENTE CAPÍTULO

Tentei demonstrar que os nossos arquivos geológicos são extremamente incompletos; que somente tem sido explorada uma pequeníssima parte do nosso globo; que certas classes apenas de seres organizados foram conservadas em abundância no estado fóssil; que o número das espécies e dos indivíduos que fazem parte dos nossos museus é absolutamente nada comparando-o com o número de gerações que devem ter existido durante o tempo de uma só formação; que a acumulação de depósitos ricos em espécies fósseis diversas, e bastante espessa para resistir a degradações ulteriores, não sendo possível que durante períodos de abaixamento do solo, enormes espaços de tempo devam ter decorrido no intervalo de muitos períodos sucessivos; que provavelmente houvesse mais extinções durante os períodos de abaixamento e mais variações durante os de levantamento, notando que estes últimos períodos são menos favoráveis à conservação dos fósseis, o número de formas conservadas deve ter sido menos considerável; que cada formação não foi depositada de uma maneira contínua; que a duração de cada uma delas foi provavelmente mais curta que a duração média das formas específicas; que as migrações têm gozado um papel importante na primeira aparição de formas novas em cada zona e em cada formação; que as espécies espalhadas são as que deviam ter variado mais frequentemente, e, por conseguinte, as que devem ter dado origem ao maior número de espécies novas; que as variedades foram a princípio locais; e enfim que, se bem que cada espécie deva ter percorrido numerosas fases de transição, é provável que os períodos durante os quais sofreu modificações, posto que longos, se se avaliam