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ORIGEM DAS ESPÉCIES

quase toda a parte foram substituídas por formas mais dominantes, produzidas nas regiões mais extensas e nos laboratórios mais activos do norte. Em muitas ilhas, as produções indígenas são quase igualadas ou mesmo já ultrapassadas por formas estrangeiras aclimatadas; circunstância que é o primeiro passo dado para a sua extinção completa. As montanhas são ilhas na terra firme, e os seus habitantes cederam o lugar aos provenientes das regiões mais vastas do norte, como os habitantes das verdadeiras ilhas por toda a parte têm desaparecido e desaparecerão ainda diante das formas continentais aclimatadas pelo homem.

Os mesmos princípios se aplicam à distribuição dos animals terrestres e das formas marinhas, tanto nas zonas temperadas do hemisfério boreal e do hemisfério austral como nas montanhas intertropicais. Quando, durante o apogeu do período glaciário, as correntes oceânicas eram muito diferentes do que hoje são, alguns habitantes dos mares temperados puderam atingir o equador. Um pequeno número de entre estes pôde talvez avançar imediatamente para o sul mantendo-se nas correntes mais frias, enquanto que outros ficaram estacionários em profundidades em que a temperatura era menos elevada e aí sobreviveram até que um período glaciário, começando no hemisfério austral, lhes permitisse continuar a sua marcha ulterior para o sul. As coisas passar-se-iam da mesma maneira como para esses espaços isolados que, segundo Forbes, existem em nossos dias nas partes mais profundas dos nossos mares temperados, partes povoadas de produções árcticas.

Estou longe de acreditar que as hipóteses que precedem tirem todas as dificuldades que apresentam a distribuição e as afinidades das espécies idênticas e aliadas que vivem hoje a tão grandes distâncias nos dois hemisférios e algumas vezes nas cadeias de montanhas intermédias. Não se saberiam traçar as rotas exactas das migrações, nem dizer porque certas espécies que não outras têm emigrado; porque certas espécies se modificaram e produziram formas novas, enquanto que outras ficaram intactas. Não podemos esperar a explicação de factos desta natureza senão quando soubermos dizer a razão de o homem poder aclimatar num país estranho esta e não aquela espécie; a razão de uma espécie se espalhar duas ou três vezes mais longe, ou ser duas ou três vezes mais abundante que outra, se bem que ambas estejam colocadas nas suas condições naturais.

Ficam ainda diversas dificuldades especiais para resolver: a presença, por exemplo, segundo o Dr. Hooker, das mesmas