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DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
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porte operado por meio da lã ou do pêlo dos quadrúpedes. Mas uma semente armada de ganchos pode ser levada para outra ilha por outros meios, e a planta modificando-se torna-se uma espécie endémica conservando os seus ganchos, que não constituem um apêndice mais inútil do que as asas atrofiadas que, em muitos coleópteros insulares, se ocultam debaixo dos élitros soldados. Encontram-se muitas vezes ainda, nas ilhas, árvores ou arbustos pertencendo a ordens que, demais a mais, não contém senão plantas herbáceas; ora, as árvores, assim como o demonstrou Afonso de Candolle, têm geralmente, quaisquer que possam ser as causas, uma distribuição limitada. Daqui resulta que as árvores não poderiam atingir as ilhas oceânicas afastadas. Uma planta herbácea que, num continente, tivesse poucas probabilidades de poder sustentar a concorrência com as grandes árvores bem desenvolvidas que ocupam o terreno, conseguiria, transplantada para uma ilha, elevar-se acima das outras plantas herbáceas tornando-se sempre maior e ultrapassando-as. A selecção natural, neste caso, tenderia a aumentar a estatura da planta, a qualquer ordem que pertença, e por conseguinte a converter-se em arbusto primeiro e depois em árvore.

AUSÊNCIA DE BATRÁQUIOS E DE MAMÍFEROS TERRESTRES NAS ILHAS OCEÂNICAS

Quanto à ausência de ordens inteiras de animais nas ilhas oceânicas, Bory Saint-Vincent fez notar, há muito tempo já, que se não encontram jamais batráquios (rãs, sapos e salamandras, nas numerosas ilhas de que os grandes oceanos estão semeados). Os estudos que fiz para verificar esta asserção confirmaram o quanto ela é exacta, se exceptuarmos a Nova Zelândia, a Nova Caledónia, as ilhas Andamão, e talvez as ilhas Salomão e Seychelles. Mas frisei já quanto é duvidoso contar a Nova Zelândia e a Nova Caledónia no número das ilhas oceânicas e as dúvidas são ainda maiores quando se trata das ilhas Andamão, Salomão e Seychelles. Não é às condições físicas que se pode atribuir esta ausência geral de batráquios num tão grande número de ilhas oceânicas, porque parecem particularmente próprias à existência destes animais, e a prova é que as rãs introduzidas na Madeira, nos Açores e na Maurícia aí se multiplicaram a ponto de se tornarem um flagelo. Mas, como estes animais, e bem assim as ovas, são mortos imediatamente pelo contacto da água do mar, à excepção todavia de uma espécie indiana, o seu transporte por esta via seria muito difícil, e, por consequência, podemos