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DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
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que o melro-zombador da ilha Chatam era levado pelo vento para a ilha Charles, que também possui o seu; para que tentaria estabelecer-se aí? Podemos admitir que a ilha Chatam é suficientemente povoada pela sua espécie local, porque cada ano põe mais ovos e cria mais filhos do que os que podem sobreviver, e devemos igualmente crer que a espécie da ilha Charles está pelo menos tão bem adaptada ao seu meio como a espécie da ilha Chatam. Devo a sir C. Lyell e a M. Wallaston, a comunicação de um facto notável em relação com esta questão; a Madeira e a pequena ilha adjacente de Porto Santo possuem muitas espécies distintas, mas representativas, das conchas terrestres, entre as quais algumas há que vivem nas covas dos rochedos; ora, transportam-se anualmente de Porto Santo para a Madeira grandes quantidades de pedras, sem que a espécie da primeira ilha seja jamais introduzida na segunda, se bem que as duas ilhas tenham sido colonizadas por conchas terrestres europeias, dotadas sem dúvida de alguma superioridade sobre as espécies indígenas. Penso, pois, que não há razão para ficar-se surpreendido de que as espécies indígenas que habitam as diversas ilhas do arquipélago Galápagos se espalhassem por cada ilha. A ocupação anterior tem provavelmente também contribuído muitíssimo, no mesmo continente, para impedir a mistura das espécies habitando regiões distintas, posto que oferecendo condições físicas semelhantes. É assim que os ângulos sudeste e sudoeste da Austrália, se bem que apresentem condições físicas quase análogas, e formem um todo contínuo, são, contudo, povoados por um grande número de mamíferos, de aves, e de vegetais distintos; o mesmo se observa, segundo M. Bates, para as borboletas e outros animais que habitam o grande vale aberto e contínuo do Amazonas.

O princípio que regula o carácter geral dos habitantes das ilhas oceânicas, isto é, as suas relações estreitas com a região que lhes pôde enviar mais fàcilmente colonos, assim como a sua modificação ulterior, é susceptível de numerosas aplicações na natureza; disto se vê a prova em cada montanha, em cada lago, e em cada pântano. As espécies alpinas, com efeito, se se exceptuarem as que, quando do último período glaciário, foram largamente espalhadas, ligam-se às espécies habitantes das baixas terras circunvizinhas. Assim, na América do Sul, encontram-se espécies alpinas de aves-do-paraíso, roedores, plantas, etc., formas estas pertencendo a tipos estritamente americanos; é evidente, com efeito, que uma montanha, durante o seu lento levantamento, devia ter sido colonizada pelos habitantes das planícies adjacentes. E o mesmo acontece com os habitantes dos